quinta-feira, 10 de julho de 2014

ES: não olhes para o que fazemos (ou fizemos) ...


A capitalização bolsista do BES era hoje um pouco abaixo de 3000 milhões de euros, após a interrupção das transações em bolsa, depois de fortes quedas recentes da cotação (ver gráfico, obtido no Google Finance). A ESFG controla 25% do capital do BES, que portanto vale cerca de 700 a 800 milhões de euros - ou seja, menos do que a exposição direta conhecida do BES ao grupo GES, que não inclui potenciais impactos do buraco BESA nem o risco indireto do BES aos incumprimentos do GE (como é que o BES será afetado pelas consequencias - incuindo possiveis falencias - de empresas clientes do BES que têm exposição á divida das empresas do universo GES? Informação recente do BES estima que essa componente possa valer cerca de 2000 milhões de euros.). E poderá valer ainda menos quando o mercado retomar as transações das acções.
Ou seja, o valor da "jóia da coroa" da familia, e do GES, não chega sequer para cobrir o risco do BES á divida do GES. No caso do GES querer entregar a sua posição no BES como garantia ou colateral, o valor da sua participação no BES estão longe se serem suficientes, nas condições de mercado a curto prazo. Isto dá uma perspetiva sobre a dimensão do problema, mesmo ignorando que a familia, e o GES, apenas controlam uma parte da ESFG ... Note-se que a familia própriamente dita tem conseguido controlar a gestão do BES através de uma posição de 25%, mas na realidade apenas detém cerca 25% desses tais 25%, graças á conhecida cascata de sociedades do grupo (deterá um pouco mais do que isso, se se anexarem as participações individuais de alguns membros da familia).
Fala-se que o papel (ou divida) do GES em circulação no mercado poderão ser 5 a 6 mil milhões de euros, um numero "colossal" (diria um tal Vitor Gaspar ...). A pergunta é como é que se contruíu esse passivo - uma pergunta que continua sem resposta, mas que certamente se deve a prejuizos continuados de exploração e a negócios ruinosos, sistematicamente escondidos debaixo dos tapetes. O GES diz excluir outras variedades menos conformes de desaparecimento de fundos, mas qual há quem desconfie disso. E ainda vamos ver aparecer a questão das responsabilidades dos auditores.
Durante anos os accionistas principais de um banco de referencia nacional andaram a enganar tudo e todos - ao mesmo tempo que os mesmos protagonistas perseguiam os clientes que não conseguiam esconder do banco as suas dificuldades financeiras - incluindo os pequenos depositantes e credores com dificuldades de tesouraria. O impacto final de tudo isto, inclusivé para além da esfera estritamente financeira, está ainda muito longe de se perceber ....
O BES fez um aumento de capital recente de cerca de mil milhões de euros. Um incumprimento do GES arruinará o efeito do aumento de capital, feito para melhorar os ratios do banco - e novo aumento de capital vai ser necessário a curto prazo. A possibilidade do saneamento do balanço do BES terminar no desaparecimento do banco, por fusão noutro banco, nacional ou internacional, começa a ser inquietante.
E o assunto da nova equipe de gestão é tudo menos reconfortante, por aquilo que significa: mostra que para gerir um BES nestas circunstancias o parece ser importante são as ligações politicas e a capacidade de facilitação e influencia junto do poder politico e da "nomenclatura" no poder, e que são essas capacidades que contam. Isso é especialmente gritante no caso do indigitado presidente da comissão executiva, um gestor sem experiencia de banca, que fez carreira empresarial num monopólio sem concorrencia a sério e que alavancou isso para se tornar politicamente relevante (muitas vezes com teses tecnicamente duvidosas) como ideologo de serviço ao governo e ás teses da austeridade radical. Um investimento que parece que lhe continua a render bons "dividendos".

(Atualizado em 11 de julho)

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