quarta-feira, 16 de julho de 2014

Ainda o BES

1. Que há um buraco nas contas do GES é um facto - recordo o post anterior (aqui). O que ainda não está claro é como é que foi criado, nem qual o seu valor. Mas sabe-se que é um buraco enorme. Um amigo meu sugere que é o resultado de anos a fio de sofisticadas contabilidades criativas para esconder grandes perdas durante muito tempo - muitos anos, e não apenas os últimos anos.

2. Esse meu amigo tem ainda uma teoria, um modelo tentativo para explicar a estranha crise no GES e no BES. O BES angariava fundos de várias origens. Emprestava dinheiro ao BESA em Angola, que estranhamente perdeu o rasto a empréstimos no valor milhares de milhões de euros, algo absolutamente insólito, mesmo que cobertos por garantias do governo angolano. O meu amigo sugere que esses fundos podem ter ido parar ... aos mesmos Espirito Santo ou GES, deixando chorudas comissões pelo caminho, com o objetivo de ajudar a tapar os buracos no Luxemburgo e em Portugal. E o meu amigo recorda a história dos dinheiros que Ricardo Salgado se "esqueceu" de declarar ao fisco, que agora se dizem terem vindo Angola numa teia de comissões e empreiteiros. Mas quero acreditar que esse meu amigo é um exagerado com imaginação a mais.


3. Ontem a nova equipe de gestão entrou ao serviço. Resposta do mercado: desvalorização das acções do BES em mais de 7%. Hoje a nova administração falou (e pouco ou nada disse: paleio vago e óbvio de recuperar a confiança perdida e de "pôr fim à especulação", em vez de clarificar). Resposta do mercado: uma quebra adicional de 15%. Em dois dias da nova gestão, que era dita precisar de entrar urgentemente ao serviço para salvar o BES, o mercado respondeu com mais de 20% de perdas na capitalização bolsista do BES. Elucidativo.

4. O que essa resposta significa é que o mercado não acredita numa gestão de comissários políticos sem experiência de bancos em mercados concorrenciais, nem que as facilitações politicas que pressupõem sejam suficientes para tapar os buracos no BES.

5. O governador do Banco de Portugal vem outra vez dizer que o BES é sólido e que até há quem queira investir no Banco. Uma coisa começa a ser clara: a supervisão do Banco de Portugal falhou completamente em prevenir mais uma crise bancária e já não tem credibilidade para fazer estes anúncios. Afinal de contas estava tudo tão sólido que teve á pressa de coadoptar uma nova administração, tudo sob a pressão da urgência e sem respeito formal pelos acionistas, sem sequer aguardar pela assembleia geral num ambiente de normalidade - uma contradição completa. Já vimos a credibilidade que o mercado deu a esses anúncios.

Atualização (17 julho): excelente artigo de opinião por Sandro Mendonça no Expresso online, (desBESificar o país, aqui).


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