sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Não há escapatória possível?

Entrevista de Mário Draghi, presidente do BCE, ao WSJ.
Começa a manifestar-se uma bipolarização dentro da UE - e Draghi alinha-se completamente com a politica recessiva de Merckel, ao insistir que não há alternativa:
  • President Mario Draghi warned beleaguered euro-zone countries that there is no escape from tough austerity measures and that the Continent's traditional social contract is obsolete, as he waded into an increasingly divisive debate over how to tackle the region's fiscal and economic troubles.
  • He said Europe's vaunted social model—which places a premium on job security and generous safety nets—is "already gone," citing high youth unemployment; in Spain, it tops 50%.
  • Banks appear to have used a significant share of the three-year loans to buy back their own bonds coming due, Mr. Draghi said.
Note-se que o próprio Draghi assinala a forma preversa como as facilidades do BCE terão sido usadas pelo sistema bancário - como seria de esperar. Mas comenta o WSJ:
  • Mr. Draghi's contention that overhauls will offset the negative effects of austerity has also been met with some skepticism. Rooting out inefficiencies in labor markets or cutting government bureaucracies subtract from growth in the short run whatever the longer-term benefits, some economists say."He's just sugar coating the message," said Simon Johnson, former chief economist at the International Monetary Fund. "A lot of this structural reform talk is illusory at best in the short run…but it's a better story than saying you're going to have a terrible 10 years," he said.
  • The Greek crisis has laid bare many of the structural weaknesses in the setup of the euro, which is governed by a single interest-rate policy yet has no common finance ministry to steer money from rich countries to poor.
O argumento de Draghi é que as politicas de correção estrutural nos países em dificuldades estão a unir a UE e a construir uma União mais coesa. (Barroso disse algo parecido há poucos dias, o atual governo português certamente que apoia).
Mas o resultado mais previsivel, mesmo a médio e longo prazo, poderá ser que aumentar as desigualdades competitivas entre os paises da UE, reduzir a coesão e solidariedade interna da UE e, ao fim e ao cabo, conduzir antes à desagregação da UE, pelo menos com a geografia atual.
Cada vez fico mais curioso em ver o tipo de políticas pró crescimento que parece que se vão anunciar na próxima cimeira: na realidade tudo isto se está a transformar num grande duelo sobre incentivos e políticas keynesianas vesus não keynesianas (ou dos "economistas de água doce" versus "economistas de água salgada"). Ou será que nas circunstâncias do euro é impossivel aplicar medidas keynesianas?
Por outro lado parece começar a emergir uma "outra" visão dentro da UE: não é só o manifesto de Cameron (que pode ser um sinal bem mais importante do que os atuais politicos situacionistas querem admitir), mas é também a reunião ontem entre os lideres de Madrid e Roma. Uma pena que Portugal não saiba procurar nesse grupo as cumplicidades que a defesa dos seus interesses impõe.

(itálicos nas citações da minha responsabilidade).

Sem comentários: